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 Maldito Labirinto


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Devagarinho, mas ando!

 


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No meu quarto escuro(texto)

O relógio aponta para a meia-noite, mais minuto menos minuto. Não me apetece dormir, tal como acontecia no passado, quando chegava a hora para me deitar, decido escrever. Pensamentos, episódios, emoções assombram-me a cabeça. Quero escrever sobre um dos episódios, entre muitos, que me lembro acompanhado pela cocaína e pelo silêncio, no meu quarto escuro. Hoje não tenho nada disso, apenas fui buscar umas folhas soltas e uma caneta.

Num dos dias há mais de três anos atrás, antes de ir para casa, decido ir ao bairro, comprar cocaína, com a ideia que era apenas esta vez. Decidi recair! Consumir no meu quarto era algo especial, acompanhado pela cocaína e pelo silêncio da noite. Acabo de comprar cinco bases de cocaína para fumar. Com a droga já no bolso, chego a casa! Falo entretanto para a cocaína, “espero que já esteja tudo a dormir”, entro em casa quase em bicos de pés, apenas ouvia o silêncio, que por vezes fala. Não me apetecia estar com ninguém, já tinha uma boa companhia. Não cumprimentei ninguém, como normalmente acontecia, dizia: “cheguei”!

Entro no meu mundo, o meu quarto, juntamente com a amiga que trazia no bolso. Pouso-as na mesinha de cabeceira e ao mesmo tempo acendo a luz do candeeiro. Começo a desembrulha-las, uma a uma, eram apenas cinco! A caixinha de metal ficava cheia de pedras, umas maiores que outras. Pego num cartão e ponho por baixo. Um outro para pegar nas pedras. De repente falta-me a prata para fazer o caneco, a garrafa tinha. Entretanto bebo um bocado de água, mas não tinha sede. Dirigi-me à cozinha para ir buscar a prata, fiz barulho, o rolo de prata ficou mais pequeno, dobro-a em quatro e guardo-a no bolso da camisola. Desço as escadas em bicos de pés novamente, quando dou por mim já tinha tudo para começar a usar, finalmente! A caixinha estava cheia de pedras. A televisão estava apagada, não queria ouvir barulho, muito menos ver televisão. Apenas a luz do candeeiro me iluminava, o ambiente era o meu. Começo a fazer o caneco, pego num bocado de um flyer dos muitos que tenho no meu quarto, e faço o tubo. Entretanto acendo um cigarro e a cinza começa a aparecer. Estava tudo pronto para poder fumar a cocaína…!

Dei o primeiro caneco. O meu corpo arrepiou-se e o sabor escorregava pela minha garganta. Guardo o fumo para mim apenas. Passado algum tempo deito-o para fora. Uma nuvem de fumo fica a planar no meu quarto. Cheirava a cocaína! O silêncio dizia para dar outro, a minha cabeça! Decido deitar-me na cama, apenas com uma camisola vestida. Não sei se tinha calor ou frio. A ansiedade começava a tomar conta de mim. Pego no caneco, já a tremer e dou outro caneco. Desta vez maior. Decido tirar a camisola. Fico em tronco nu. Entretanto parto a branca em pedras mais pequenas. A branca derrete-se cada vez mais depressa. A partir daqui nunca mais parei, até ver a caixinha apenas com uma pedra pequena de branca. Olho para o chão entretanto. Estava cheio de cinza espalhada, apenas soprei para debaixo da cama. Por uns instantes não ouvia nada, ao mesmo tempo ouvia tudo. Essencialmente ali estava a obsessão a falar comigo, “vai buscar mais”! A cocaína chamava por mim. Mal ela diz a primeira palavra, decido vestir-me e sair de casa a meio da noite. Eram duas e tal da manhã.

Nada me fez parar, muito menos ficar em casa. A minha vontade disparou, sem que eu pudesse fazer nada! Dirijo-me novamente a um outro bairro de uso. Sabia que encontrava lá gente de certeza e que me poderia vender. Já não ia lá há algum tempo. Acabo, por comprar mais umas bases. Peço a alguém que encontro, para dar um caneco lá em casa do dealer. Dei por mim a dar outro e mais outro. O movimento era grande. Estavam sempre a entrar e sair pessoas. Eu estava na sala, sentado no sofá. Decido vir para casa. De repente encontro-me novamente no meu mundo, o meu quarto, apenas com duas bases, e uma outra que tinha deixado em casa. Fumo-a toda e estou novamente sem ela. No relógio já são cinco da manhã. O dia está quase a nascer e eu ainda não dormi. Sei que tenho que ir trabalhar às oito da manhã. Não tinha muito mais dinheiro! Não me consegui deitar para dormir, antes de ter dinheiro para de manhã. A minha cabeça teve a “brilhante” ideia de roubar a minha mãe. Mais uma vez fui lá em cima, agora à carteira da minha mãe. Abri a carteira e não vi dinheiro. Abri o outro lado da carteira e vi notas. Tirei uma de cinquenta euros. Voltava a estar contente e convicto. Desci para o meu quarto. Arrumei tudo e escondi o caneco no armário do meu quarto. O tempo parecia que demorava a passar. Olho para o relógio e são sete na manhã. Visto-me como se fosse trabalhar. Mas acabei por não ir. Eram sete e pouco da manhã, estava a entrar outra vez no primeiro bairro que tinha ido, só que desta vez com o dia estava a nascer. Não conseguia parar. Compro mais cinco bases. Não tinha tabaco, nem mais dinheiro. Pego no carro e vou para uma bomba de gasolina. Começo a consumir! As horas passam, já passava uns minutos das oito da manhã quando decido não ir trabalhar. Estava com medo e com muita ansiedade. O telefone começava a tocar. Não atendi! A branca começava a escassear. Desde aqui as minhas noites e dias começavam a rolar à volta da cocaína e dos bairros de uso. São muitas as noites como esta que me vêm à memória.